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16 de julho de 2017

AH, OS ESTRANGEIRISMOS !!


Na legislação brasileira existe uma lei, a Lei de Licitações, que ordena como devem ser feitas as compras de produtos pelo governo e determina que se dê preferência para os produtos manufaturados nacionais e apenas quando não houver um produto brasileiro que preencha as características exigidas é que poderá ser comprado um produto estrangeiro.
O mesmo critério pode ser empregado nos textos, no que diz respeito ao emprego de estrangeirismos. Já na primeira metade do século passado, Noel Rosa já “reclamava” do emprego de termos estrangeiros, na canção Não tem tradução:
(…) Amor lá no morro é amor pra chuchu
A gíria do samba não tem I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone.
Assim como Noel, Jackson do Pandeiro também se mostrava ‘purista’ e exigia a contrapartida dos estadunidenses, personificados na figura do Tio Sam:
Só ponho bebop no meu samba
Quando o tio Sam pegar no tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele entender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba vai ficar assim (…)

O maranhense Zeca Baleiro, no entanto, admite o uso brincalhão, numa crítica divertida à presença das palavras de outros idiomas no nosso cotidiano, como se vê no Samba do Approach:
(..) Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat (…)
Bem, essa é a posição de alguns compositores nos textos poéticos, mas e nas redações, como devemos proceder?
Como em todas as demais situações na nossa vida, o ideal é usar o bom senso. Não se pode negar que os idiomas são mutáveis: as línguas transformam-se continuamente e novas palavras e expressões surgem para expressar novas ideias.
Num processo bem ‘antropofágico’ (no sentido modernista do termo), vários estrangeirismos sofreram adaptações e foram aportuguesados, passando a apresentar a grafia mais próxima do modo como são pronunciados. É o que se observa nas palavras abaixo:
  • Abat-jour (francês) > abajur
  • Atelier (francês) > ateliê
  • Baton (francês) > batom
  • Blackout (inglês) > blecaute
  • Cartoon (inglês) > cartum
  • Football (inglês) > futebol
  • Knockout (inglês) > nocaute
  • Tournée (francês) > turnê
Há, porém, uma série de empréstimos que não foram aportuguesados, por motivos diversos. Nesses casos, e apenas nesses, o termo estrangeiro pode ser empregado, como no caso da Lei de Licitações: se não houver a forma aportuguesada, nem houver uma tradução exata no nosso idioma. Ainda assim, precisamos destacar graficamente que o vocábulo é um ‘estranho no ninho’ e isso pode ser feito colocando-o entre aspas (ou em itálico, se o texto for digitado).Veja algumas dessas palavras e suas origens:
  • Apartheid (africânder)
  • Chantilly (francês)
  • Chip (inglês)
  • E-mail (inglês)
  • Fast-food (inglês)
  • Jazz (inglês)
  • Laser (inglês)
  • Lingerie (francês)
  • Mouse (inglês)
  • Office boy (inglês)
  • On-line (inglês)
  • Outdoor (inglês)
  • Réveillon (francês)
  • Shopping center (inglês – embora a expressão empregada nos EUA para um centro comercial seja mall)
  • Show (inglês)

Existem, também, algumas palavras aportuguesadas, como becape, blêizer e champinhom, ainda pouco conhecidas e pouco empregadas, casos em que também se pode empregar o termo original.
Em tempos de globalização é quase impossível ignorar os termos estrangeiros, mas os gramáticos, reforçando a necessidade de bom senso, aconselham o seguinte:
  • Prefira sempre a forma aportuguesada do termo, use a forma original somente quando não houver um termo correspondente em português;
  • Empregue a tradução literal, quando houver (use desempenho em vez de performance);
  • Evite o uso abusivo dos estrangeirismos, pois podem ser vistos como pedantismo ou pobreza vocabular; e
  • Use sempre o bom senso!

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